sábado, 3 de abril de 2010
O poder de condenar
"Um morador de rua teve o corpo coberto por tinta spray prateada e depois recebeu um banho de urina nos pés, na madrugada de ontem, em Porto Alegre. Vanderlei Pires, de 35 anos, dormia na esquina da Rua Lobo da Costa com a Avenida João Pessoa, próximo ao centro da cidade, quando foi vítima do ataque.
De acordo com uma testemunha que acompanhou o socorro à vítima, um carro branco com jovens aparentemente alcoolizados parou próximo a Pires quando ele já estava pintado. O motorista desceu do veículo e urinou sobre seus pés.
A mulher que assistiu à cena anotou a placa do carro e entregou os dados à polícia. A vítima foi atendida no Hospital de Pronto Socorro e no Instituto Médico Legal, depois foi encaminhada a um albergue da prefeitura.
Ainda durante a manhã, o advogado Jefferson Cardoso, de 47 anos, soube do ocorrido pela imprensa e se ofereceu para representar o morador de rua. "Vim ajudar 50% como advogado e 50% como cidadão", disse Cardoso. "Faço um apelo para que alguma instituição o receba. Ele precisa começar a se tornar um cidadão e ter um pouco de dignidade." A polícia investiga o caso, mas não informou se algum suspeito foi identificado. As informações são do jornal O Estado de S.Paulo "
Bem, eu não vou escrever sobre a notícia acima transcrita do site http://www.estadao.com.br/ e sim da minha reflexão a partir da declaração de minha mãe ao ver o caso no Jornal da Globo de ontem, sexta-feira, 2 de Abril:
"São um bando de filhinhos de papai! Agora esse advogado vai fazer com que os papais deles indenizem o pobre do mendigo! Se fosse meu filho, eu enchia de porrada, pintava de spray e fazia ele ficar na rua de Estátua Viva. Caso algum amigo dele perguntasse, ele diria assim: 'Não, é que eu resolvi dar uma de estátua viva pra pegar uns trocados e assim pagar a indenização daquele pobre coitado."
Minha mãe é assim mesmo. Mas eu tenho de dizer que não gostei de sua declaração. Realmente, o que os jovens fizeram com Vanderlei foi horrível. Eu pude perceber, não só pela declaração da minha querida "Baleinha", mas também por outros fatos, que a maioria dos brasileiros tem este hábito: condenar o próximo.
Isso pôde ser visto durante as sessões do Julgamento de Alexandre Nardoni e Ana Carolina Jatobá, em que os reús foram condenados a a 31 anos de prisão e 26 anos de reclusão respectivamente por homicídio triplamente qualificado. Do lado de fora do 2º Tribunal do Júri do Fórum de Santana, centenas de pessoas - incluindo mulheres com crianças de colo às 00h e 40 min - vibravam pela sentença do júri balançando as grades do tribunal e gritando: "Assassinos, assassinos, assassinos!" de tal forma que - desculpe pela comparação, mas não consigo achar outro elemento compatível - parecia a comemoração da vitória de um time de futebol. O próprio Promotor de Justiça Francisco Cembranelli declarou em entrevista:
"O que essas pessoas estão comemorando? Por causa da multidão eu tive que comparecer às sessões em carros diferentes! Uma criança foi morta, duas crianças estão órfãs e dois pais estão com seus filhos presos! A justiça foi feita, sim; mas é incrível perceber como o ser humano tenta fazer a sua própria justiça."
Agora eu me pergunto: porque o ser humano parece procurar os pecados no outro e o condena se ele, na sua condição de uma criatura que também erra, não olha pra dentro de si e percebe as suas falhas? À declaração de minha mãe, eu respondi: "Não condene esses jovens, a senhora não está dentro das leis dos homens para condená-los e muito menos é Deus para fazer tal ato." Não digo que perante às atrocidades do mundo tais como pedofilia, corrupção, assassinatos, roubos etc. fiquemos calados e sim que devemos ter em consciência de que forma estamos condenando o semelhante. É certo xingar o criminoso, surrá-lo, matá-lo - como acontece em alguns bairros de Belém, em que os cidadãos matam o bandido à sangue frio - e fazer essa tal "justiça com as próprias mãos"? Onde estão os Direitos Humanos? Sei que os aparelhos Judiciário e Executivo não são dos melhores em nosso país, mas essa justiça do "olho por olho e dente por dente" nos levará a uma barbárie.
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olá anelise.
ResponderExcluirsim, realmente todos condenam todos. é a antiga prática de dizer: "eu não faria isso" ou "se fosse comigo..." e etc. o mundo está tão doente com o sistema, tão mergulhado em preconceitos e hipocrisias, que a empatia não existe mais. se colocar no lugar do outro parece um trabalho muito mais difícil do que escalar o monte everest.
assistindo a tudo isso, me pergunto até onde a humanidade vai chegar.
um abraço.